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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônica de Natal ( "Jesus" menino num ponto de ônibus)

    


                     “JESUS"MENINO NUM PONTO DE ÔNIBUS

  Naquele dezembro chuvoso e frio de 2010, logo na época de Natal...Estava eu voltando de uma consulta médica,chateada com a confirmação pela segunda vez, pelo o mesmo reumatologista, sobre a minha doença, “não tem tratamento” , doença degenerativa das juntas, artrose avançada,Não tem jeito, só medicação para aliviar as dores, ouvi ele dizer: “ Vá para perícia médica”.
Aquilo soou como um carimbo no coração:  “reprovada  para o trabalho, atestado de incompetência”.

Saí cabisbaixa, com mil pensamentos na cabeça, o que fazer? Olhava pela janela do ônibus, parecia que via todos os transeuntes e a vida, em câmera lenta. Sons  externos misturavam-se com os sons dos meus neurônios, coração e tudo mais, o corpo dava choque involuntário.

 Pensava eu, Será? Nem um milagre resolveria este problema de saúde? Teria que me acostumar com isso, afinal têm certas doenças que são da genética, difícil ficar isenta delas,  já que é um prêmio hereditário de família carente de alimentação saudável.
 Fiquei pensando e comecei a comparar...  O  corpo de uma pessoa que alimentou-se mal, não cuidado,é com uma madeira leve, o cupim ataca primeiro e detona. E a madeira de lei seria de um corpo saudável,difícil de ser distruído, bem cuidado, bem estruturado. Foi com este pensamento pessimista que olhando para a rua, movimentada pelas compras natalinas, avistei...

Um menino aparentando uns doze anos de idade de cabelos curtos encaracolados dourados, feitos anéis de ouro, olhos azuis,  um olhar expressivo, roupas simples, fora de moda para os padrões atuais.Fiquei chocada,ele estava olhando a esmo, mesmo não me fitando, fiquei encantada com aquele olhar incomparável, era exatamente como imaginei um dia, lendo (Proezas do menino Jesus), do autor Luís Jardim ,sobre a infância do Messias.

Aquela imagem, aquela cena era um aviso para mim, como se me dissesse algo: “Não sofra antecipadamente, viva o hoje, Ele está á caminho, está presente na tua trajetória
de vida!”. Talvez nem tivesse nada a ver com a figura e aparência daquele menino, coisas da minha imaginação, inspiração, mas como? Se pensamentos bons provém do Espírito Santo de Deus? Uma lição a mais a ser seguida.

Veio uma força estranha dentro de mim, uma emoção tão forte, que eu não sei se caía mais gotas de chuva na janela do ônibus, ou lágrimas de emoção dos meus olhos, na mente um clarão, como se fosse flash de câmera fotográfica, a imagem do menino ficando para trás e as idéias brilhando na minha frente. Mentalmente a idéia era de superação já, esquecer  a” madeira cupinzada, bichada”,afinal não sou só, há tantos piores, até sem "cupim" mas com doenças piores e nem por isso lamentam.A saída é partir para uma nova etapa de vida, trabalhar com tudo de bom que sobrou , afinal, pernas pra que te quero? Existem outros meios.

Foi com este pensamento que senti um milagre dentro de mim, O da esperança,sorrí com vontade de contar a todos, que a gente pode ser feliz sim, apesar dos percalços.

Compreendi que o Natal tem este poder de operar milagres. vai muito além de ser um tempo de reflexão, confraternização, festa. É tempo de renascer,livrar-se da pele velha, revestir de vida, deixar chover a graça, molhar, umedecer o coração, secar as lágrimas de tristezas,moldar sonhos, acreditar que nada está totalmente perdido.

E...Bastou-me a imagem de um menino!
                   
              Dora Duarte

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

História de um cão



Luiz Guimarães


Eu tive um cão. Chamava-se Veludo.
Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
para dizer numa palavra tudo,
foi o mais feio cão que houve no mundo.
Recebi-o das mãos dum camarada.
Na hora da partida, o cão gemendo,
não me queria acompanhar por nada.
Enfim - mau grado seu - o vim trazendo.

O meu amigo cabisbaixo, mudo,
olhava-o... O sol nas ondas se abismava...
"Adeus!" - me disse, e ao afagar Veludo
nos olhos seus o pranto borbulhava.
"Trata-o bem. Verás como rasteiro
te indicará os mais sutis perigos.
Adeus! E que este amigo verdadeiro
te console no mundo ermo de amigos."

Veludo, a custo, habituou-se à vida
que o destino de novo lhe escolhera;
sua rugosa pálpebra sentida
chorava o antigo dono que perdera.
Nas longas noites de luar brilhante,
febril, convulso, trêmulo, agitando
a sua cauda, caminhava errante,
à luz da lua - tristemente uivando.

Toussenel, Figuier e a lista imensa
dos modernos zoológicos doutores,
dizem que o cão é um animal que pensa.
Talvez tenham razão estes senhores.
Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
cinco meses depois, do meu amigo,
um envelope fartamente cheio.
Era uma carta. Carta! Era um artigo,

contendo a narração miuda e exata
da travessia. Dava-me importantes
notícias do Brasil e de La Plata,
falava em rios, árvores gigantes,
gabava o steamer que o levou; dizia
que ia tentar inúmeras empresas.
Contava-me também que a bordo havia
mulheres joviais - todas francesas.

Assombrara-se muito da ligeira
moralidade que encontrou a bordo.
Citava o caso d'uma passageira...
Mil coisas mais de que me não recordo.
Finalmente, por baixo disso tudo,
em nota breve do melhor cursivo
recomendava o pobre do Veludo,
pedindo a Deus que o conservasse vivo.

Enquanto eu lia o cão, tranquilo e atento,
me contemplava, e - creia que é verdade,
vi, comovido, vi nesse momento
seus olhos gotejarem de saudade.
Depois lambeu-me as mãos, humildemente,
estendeu-se a meus pés silencioso
movendo a cauda, - e adormeceu contente,
farto d'um puro e satisfeito gozo.

Passou-se o tempo. Finalmente, um dia,
vi-me livre daquele companheiro.
Para nada Veludo me servia...
Dei-o à mulher d'um velho carvoeiro.
E respirei! "Graças a Deus! Já posso",
dizia eu, "viver neste bom mundo,
sem ter que dar, diariamente, um osso
a um bicho vil, a um feio cão imundo".

Gosto dos animais, porém prefiro
a essa raça baixa e aduladora,
um alazão inglês, de sela ou tiro,
ou uma gata branca cismadora.

Mal respirei, porém! Quando dormia
e a negra noite amortalhava tudo
sentí que à minha porta alguem batia.
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.
Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
farejou toda a casa satisfeito
e, de cansado, foi rolar dormindo
como uma pedra, junto do meu leito.

Praguejei furioso. Era execrável
suportar esse hóspede importuno
que me seguia como o miserável
ladrão, ou como um pérfido gatuno.
E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
dizê-lo em alta voz e confessá-lo.
Para livrar-me desse cão leproso
havia um meio só: era matá-lo.

Zunia a asa fúnebre dos ventos;
ao longe o mar, na solidão gemendo,
arrebentava em uivos e lamentos...
De instante em instante ia o tufão crescendo.
Chamei Veludo; ele seguia-me. Entanto,
a fremente borrasca me arrancava
dos frios ombros o revolto manto,
e a chuva meus cabelos fustigava...

Despertei um barqueiro. Contra o vento,
contra as ondas coléricas vogamos.
Dava-me força o torvo pensamento.
Peguei num remo e com furor remamos.
Veludo, à proa, olhava-me choroso
como o cordeiro no final momento.
Embora! Era fatal! Era forçoso
livrar-me, enfim, desse animal nojento.

No largo mar ergui-o nos meus braços
e arremessei-o às ondas,de repente...
Ele moveu gemendo os membros lassos,
lutando contra a morte. Era pungente.
Voltei à terra, entrei em casa. O vento
zunia sempre na amplidão profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
de Veludo nas ondas moribundo.

Mas ao despir, dos ombros meus, o manto,
notei - oh grande dor! - haver perdido
uma relíquia que eu prezava tanto!
Era um cordão de prata: - eu tinha-o unido
contra o meu coração, constantemente,
e o conservava no maior recato,
pois minha mãe me dera essa corrente,
e, suspenso à corrente, o seu retrato.

Certo caira além, no mar profundo,
no eterno abismo que devora tudo.
E foi o cão, foi esse cão imundo
a causa do meu mal! Ah, se Veludo
duas vidas tivera, duas vidas
eu arrancara àquela besta morta
e àquelas vís entranhas corrompidas.
Nisto sentí uivar à minha porta.

Corrí, abri... Era Veludo! Arfava.
Estendeu-se a meus pés e docementve; minha porta.

Corrí, abri... Era Veludo! Arfava.
Estendeu-se a meus pés e docemente,
deixou cair da boca que espumava
a medalha suspensa da corrente.
Fora crível, oh Deus? Ajoelhado
junto do cão, estupefato, absorto,
palpei-lhe o corpo: estava enregelado.
Sacudi-o, chamei-o! Estava morto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cadê os sapos que estavam ali? O entulho aterrou! Crônica


                            
          Em dias chuvosos, quando eu passava próximo ao um imenso terreno, ouvia um coral de milhares de sapos coaxando. Evidentemente em evolução, usavam o método natural do mandamento de Jesus Cristo”Crescei-vos e multiplicai-vos” numa maternidade improvisada.
           Um certo dia ao passar por lá,  percebi um silêncio no ar, somente o barulho da chuva. Olhei e vi uma placa  enorme bem visível “Vende-se” .sete mil metros quadrados bem aterrado com entulhos de demolições, nada de terra vegetal nem vegetação, nem poças, nem sapos.
           .O bairro cresceu de uma forma acelerada numa proporção desvantajosa à natureza. Expandiu-se, sufocou-os.e a cadeia alimentar deles( os mosquitos) aumentou!
E onde há muitos insetos, é sinal de desequilíbrio natural.
        
          Quando penso nesse fato, a primeira idéia que vem à mente.Quais serão os próximos seres vivos e espécies da nossa fauna a  desaparecerem do seu habitat? Primeiros os animais e depois?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O "APARADOR DE GRAMA" (CRÔNICA)



 
      Todo mundo vai ao centro diariamente: estudantes, trabalhadores, donas de casa, criança e por ai vai. Uns vão de carros, motos, mas a grande massa popular, usa mesmo, o “latão” apelido dado aqui aos  ônibus velhos, pois novo é mais raro. Sem carro como estou  no momento, por um lado é ruim, tudo longe, o ponto de parada então...Haja pernas para dar conta de chegar até lá! Mais de um quilômetro para qualquer lado que eu me dirija.. Por outro lado, me fascina, observo, coisas que não interessam a maioria das pessoas. Faço questão de ficar do lado da janela e alterno toda vez que vou à cidade.

           Um dia desse saí, o tempo estava meio duvidoso, ameaçava sair o sol, ao mesmo tempo chuviscava e estava frio.Na estrada de areia clara, que costumo fazer o meu trajeto diário ,deparei com uns “quero-queros” tentando avançar em mim. Na hora não pensei o por quê dessa agressão, assim  sem mais nem menos. Depois encontrei um casal que me alertou, “Era por causa de um ninho deles que estava cheio de filhotes”...Então era isso! Segui em frente. Olhei como de costume a paisagem, os quintais floridos, dei de cara com um belo cavalo, morava mesmo no quintal, e ele comendo grama, percebi que ela estava toda aparadinha, parecia que tinha sido passado um cortador, mas na real, depois pensei...Esse cavalo é um cortador natural de grama!, Nada desperdiçava....Queria um desse cortador.

sábado, 3 de setembro de 2011

O rodo na era dos descátaveis

 
É inacreditável  essa história do rodo, na época que nós estamos, na maioria das vezes nada nasceu, criou-se para durar, mesmos os artigos de primeira linha, o caros, os baratos...

Quando não é descartável, nem tudo é duradouro. Eletrodomésticos,eletrônicos, carros, motos etc,tem prazo de validade, o tal “anos de vida”. Necessita de peças para reposição. Não seria diferente, como poderia manter  as dividas fábricas das peças?

No ano de 2000, exatamente no mês de agosto, Bel conheceu  Dinah tornou-se logo boas amigas, uma passou a visitar a casa da outra com freqüência, já que eram muito sozinhas, a família que tinha cada uma, final de semana debandava. Restava mesmo era a cada semana, arrumar a mochila, atravessar a cidade do leste ao sul ir passar sábado e domingo com a novata amiga.

A Bel começou a perceber o exagero de limpeza por parte da Dinah, não achou muito ruim dela se oferecer para fazer uma limpeza no banheiro, bem no primeiro dia que se conheceram, muito pelo contrário, mesmo apesar de está limpo.. A Dinah perguntou a Bel aonde havia um mercado, pois queria comprar algumas coisas, a Bel não achou necessário, já que havia quase de tudo em casa. Mesmo assim Dinah insistiu tanto que a Bel acabou ensinando à ela. Bel ficou em casa  fazendo algumas arrumações .

 Haja Dinah demorar. Bel  preocupada  correu ao portão, viu ela vindo toda carregada de sacolas, Bel deu-lhe umas broncas pelo exageros das compras. No meio daquelas compras um  RODO aparentemente comum, nada de especial, nem ele mesmo sabia  da sua durabilidade.

Passou-se anos e mais anos....Cada uma das amigas mudou-se para cidades diferentes, o rodo que ficou de “herança” para Bel, em total resistência; a água, limpeza, chuva, sol, umidade, mudanças de casas, de estado e ele firme, forte como uma rocha.

Qual seria o segredo? Até quando durará? Que nem euzinha!!!

 ...Muitos onze anos de vida!
   (Dora Duarte)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Maria fulorzinha(cumadre)

                “Maria fulorzinha”

     Era uma menina bem pequena, de cabelos lisos e de tão longos, arrastavam aos seus pés. Era uma figura horrenda, asquerosa. Ela aparecia na mata do estado, situada em João Pessoa PB.
     Contavam os antigos moradores, que essa menina, vivia assombrando todos aqueles lenhadores carvoeiros que costumavam buscar a lenha para o devido trabalho.
    Para quem conhece o “curupira”, a estória é quase semelhante.
    Diziam que Maria fulorzinha morava na mata. Contam que ela assoviava   bem fino, se uma pessoa ouvisse o assovio de longe, era porque ela estava perto e se ouvisse perto, era porque ela estava longe. Quando alguém topava com ela, assustava e entrava em pânico, pelo o poder que ela tinha de hipnotizar a vítima.Tinha os  cabelos longos, aparentava sete anos de idade,dentes horríveis, podres, os olhos esbugalhados , a voz asquerosa.  Quando exigia fumo ... Ai de quem não tivesse em mãos! Nem que fosse uma “lasquinha”, do contrário, amarrava a vítima num tronco de árvore, dava-lhe uma surra com os cabelos, até deixá-la inconsciente. No dia seguinte, era achado o corpo, niquelado, desfalecido.ou  morto, amarrado com um cipó num tronco de uma árvore. Nunca se soube, se morriam da surra, ou do medo.

  (obs: existem duas versões desta história: Uma é o nome "cumadre fulorzinha" e a outra "Maria fulorzinha", mudam alguns aspectos, porém, foi assim que eu ouvia contar na minha infância em João Pessoa, Pb

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A "mãe da lua" (comemorando o mês do folclore brasdileiro)


O Urutau é uma ave noturna que, quando a lua desponta, solta um grito triste e assustador. Sobre ele, conta-se uma curiosa lenda.

Numa humilde casinha do sertão, vivia com seus pais uma moça muito feia. Naturalmente, por causa disso, não conseguia arranjar um namorado. O tempo passava, suas amigas todas se casaram e ela continuava desprezada.

Mantendo ainda alguma esperança de que lhe surgisse um pretendente - pois, afinal, tinha suas qualidades: inteligente, trabalhadeira e boa cozinheira - adquiriu o hábito de sair à noite para passear pelos campos e bosques.

Certa vez, em um desses passeios, ouviu o tropel de um cavalo que se aproximava. O coração aos pulsos, imaginou que ali vinha o homem que se casaria com ela. Em poucos segundos viu descer de uma cavalo ricamente arreado, um belo e garboso cavaleiro, um príncipe que se aproximou e perguntou-lhe como podia chegar à estrada principal. A moça habilmente procurou cativar o príncipe pela gentileza e ofereceu-se para acompanhá-lo. Apesar de feia, era muito inteligente e foi fácil manter uma conversa agradável com o príncipe que, impressionado e não lhe percebendo a feiura, pois não havia luar, pediu-a em casamento. Mas infelizmente, sua felicidade durou pouco. A lua surgiu, iluminando o rosto da jovem. O príncipe, tomado de grande espanto, inventou uma desculpa para se afastar e se foi. A jovem, que de nada suspeitava, ficou esperando o seu regresso.

Muito tempo depois, uma feiticeira sua conhecida, ia passando e parou para conversar. A moça contou a ela o que acontecera e pediu para ser transformada numa ave e, assim, poder encontrar logo o príncipe. A feiticeira não queria, mas a jovem insistiu tanto que ela acabou concordando. Partiu, então, a jovem, transformada numa ave feia e desajeitada. Percorreu toda a região por várias vezes e nada de avistar o príncipe, que àquela altura, já estava bem longe.

Desolada, a ave - que era o urutau - procurou a bruxa e pediu para voltar à forma humana. Esta, porém nada pode fazer e a pobre teve que se conformar com seu destino de ave feia e triste. É por isso que, quando a lua aparece, o urutau solta aquele grito triste que parece dizer "foi, foi, foi", lembrando o príncipe que fugira da moça feia.

O uratau é um pássaro solitário e de hábitos noturnos que dificilmente se deixa ver. Pousado na ponta de um galho seco,dar nenhum tipo de sinal de vida. O feiticeiro da tribo alegou que Nheambiú perdera a fala para sempre, a não ser que uma grande dor a fizesse voltar a ser o que era antes. Então a jovem recebeu todos os tipos de notícias tristes, a morte de seu pais e amigos, mas ela não dava nenhum sinal, até que o pajé falou "Cuimbaé acaba de ser morto".

No mesmo momento a moça, lamentando repetidas vezes, tomou vida e desapareceu dentro da mata. Todos que ali estavam transformaram-se em árvores fitando a lua e estremecendo a calada da noite, emite seu canto tenebroso assemelhado a um lamento humano. Por este motivo, o povo também o chama de "mãe-da-lua". Seu grito talvez seja o mais assustador de todos, entre as aves. "Meu filho foi, foi, foi..." - interpreta o povo. Por causa de seu grito, o uratau é muitas vezes associado a maus presságios, mas segundo a mitologia tupi-guarani, é uma ave benfazeja.

Segundo a lenda, uma moça guarani chamada Nheambiú, apaixonou-se profundamente por um bravo guerreiro tupi chamado Cuimbaé, que caíra prisioneiro dos guaranis. Nheambiú pediu a seus pais que consentissem o casamento com Cuimbaé. Todos os insistentes pedidos foram negados, com a alegação que os tupis eram inimigos mortais da nação guarani. Não podendo mais suportar o sofrimento, Nheambiú saiu da taba. O cacique mobilizou seus guerreiros na procura da filha e, após uma longa busca, a jovem índia foi encontrada no coração da floresta, paralisada e muda, tal qual uma estátua de pedra, sem secas, enquanto que Nheambiú tomou a forma de um uratau e ficou voando, noite após noite, pelos galhos daquelas árvores amigas, chorando a perda de seu grande amor.

Em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, Câmara Cascudo testemunha que essa ave noturna, de canto agourento, "melancólico e estranho, lembrando uma gargalhada de dor", cercou-se de "misterioso prestigio assombrador".

Coutinho escreve que as penas dessa sinistra ave são um poderoso "amuleto de preservação da castidade feminina". A mesma informação é dada por Câmara Cascudo e Orico, que evocam o testemunho de José Veríssimo, 40, que afirma ser a pele da ave, seca ao sol, que serve de breve contra a luxúria, "curando" as donzelas das tentações do sexo. Bastava que se varresse o chão, a rede ou cama onde a jovem deitasse, para que fosse afastado dali o que pudesse despertar desejos carnais.

O mesmo caráter agourento é atribuído a outra esta espécie de coruja, a "Rasga-Mortalha", esta última - esclarece Câmara Cascudo - tem esse nome em virtude do som que produz o atrito de suas asas, que faz lembrar um pano sendo rasgado.
(Autor desconhecido)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A BARATA ESPERTA


Quem pensar que muitos bichos rasteiros não são inteligentes, se engana...

Era uma vez uma barata, ela se achava  poderosa,divido uma conversa que ela escutou da resistência que as baratas têm sobre determinados inseticidas e seus antepassados resistir até a bomba atômica.
Vivia rondando uma casa limpa. Mesmo  sendo asseada, ela tinha  a certeza que ali iria achar alguma coisa para se alimentar e levar para o buraquinho para seus filhotes. Quem sabe num descuido, algumas migalhas de comida .

Pensava o que fazer para entrar na casa ,já que nas janelas haviam telas, a porta vedada, nos recantos não havia brecha, mesmo assim, ela ficava à observar os movimentos da casa.
 Daí, num descuido de uma janela aberta sem a tela, ela voou, voou  e...
Catabimba!!!! Para o seu desespero, caiu dentro de um vaso sanitário.
Esperneia, esperneia, tudo molhado liso, escorregava...Quando escuta um grito de pavor:

_Aiiiiiiiiiiiiiiiii que horror! Uma barataaaaaaaaaaaaaa no meu banheiro, me acuda!!!!”
Era a dona da casa, gritava não se sabe pra quem, já que só existia ela na casa.
 E saiu as carreiras.Nisso a barata com o susto do grito conseguiu dar um pulo e caiu fora do vaso sanitário.

 De repente viu  a dona da casa que tinha gritado, mais que depressa, a barata vendo ameaçadora uma enorme lata de spray, com a foto dela estampada , tratou logo de fingir de morta, ouviu então a dona falar...”Ah danada, morreu depois de beber tanta água no vaso né? Vou te jogar na cesta do lixo, embrulhada num papel higiênico!”

A barata apavorada nem respirou, nem mexeu suas pernas, nem suas antenas, sentiu-se como uma múmia em volta no papel higiênico.Foi parar mesmo no lugar prometido pela dona da casa, na lixeira do banheiro.
 Passado alguns instantes, ela esperneou, roeu o papel e saiu toda faceira, deu uma volta pela cozinha, achou alguns farelinhos de pão no chão, saiu sem dizer nem um” muito obrigado”    e..                  “ Fuii !!!”
 A dona da casa quando voltou ao banheiro, incrédula, olhou na lixeira...”Cadê a barata morta que estava aqui?”                                             

                                                                                                        (imagens do google)

                                                      Dora Duarte.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Os últimos pau de arara (final)

                                        Parte lll  final
O Tio reclamando com ele, porque não queria perder aquele tão esforçado ajudante:
    
           __Tio José, o senhor arranjará outro até melhor que eu! Acho o que eu já trabalhei  deu para pagar o que lhe devo não é?
          Ele balançando a cabeça negativa respondeu: __duvido, não é sempre que arrumo ajudante responsável. Sim claro! Ainda tens um pouco para receber, mande para a sua mãe!
         __ vou mandar sim, mas quando receber o meu primeiro salário, esse foi quebra-galho!
         __Ah seu mal agradecido, que dizer que isso não era emprego! Riu.
         __Sim claro tio, eu não quis dizer isso, foi muito bom o senhor te me ajudado.

               Começou a trabalhar com muito desempenho, fazia de tudo ali, metia as mãos na massa, lavava salão, recolhia lixo, cuidava das mesas, servia no balcão,andava sempre com uniforme branco impecável, era muito eficiente. O gerente  passou a gostar do jeito dele e cada dia que se passava, mas aumentava a confiança nele.
      
              O primeiro ordenado, conforme prometera, tirou uma parte para as suas despesas, e o resto mandou pelo o correio para a sua mãe dar de entrada numa máquina de costura de pedal. Um mês após estava recebendo uma carta da sua mãe agradecendo a ele por tudo e lhe abençoando, pediu para que ele procurasse aprender uma profissão e voltar, era difícil para todos da família ficarem longe dele. Já que eram muito unidos
 Nem sempre as folgas dos amigos caíam no mesmo dia.Quando acontecia raramente,               os três se reuniam para pegar um cinema ou mesmo jogar uma pelada. O Genésio foi logo que arranjou uma namorada, estavam morando junto falando em casar breve. O João Batista estava morando numa pensão no centro e o Brás pensando fazer o mesmo, já que tinha chegado uma nova remessa de conterrâneos na casa do seu tio José, Seu tio sempre acolhia pessoas recém-chegadas, eram os primeiros a vir no novo meio de transportes, a marinete.

                  A solidão se apodera do Brás de jeito, já que passou a morar sozinho num quarto de pensão no centro, perto do Parque D.Pedro.Sofreu muito na época de frio, esteve muito doente com começo de pneumonia, a dona da pensão  o levou  no pronto-socorro, ela se preocupava muito com ele, pois era um bom rapaz. Depois de uns dias ele melhorara bem
                 . Começou a se apossar dele uma saudade imensa de casa, pegava a sua gaita e tocava, procurava tocar músicas alegres, mas nem assim abrandava o sentimento de ausência familiar, sentia desolado, talvez por causa da falta dos amigos conterrâneos. Pensou,”.vou sair por aí e arranjar uma namorada”. E arranjou uma.
          
                 Conheceu A Maria das Graças no Parque da Luz, era uma pernambucana, também fazia pouco tempo que estava  ali na capital, trabalhava de doméstica, namoraram por um bom tempo e um dia sem mais nem menos ela termina com ele. Sofreu, mas pensou, melhor assim depois teria que voltar e a separação seria  bem pior.
             Passou-se alguns anos, ele adquiriu algumas profissões: de confeiteiro, balconista, garçom, motorista já com carta na categoria maior profissional.
            Seus amigos casaram-se, ele não, precisava voltar conforme tinha prometido a sua mãe. A saudade era tanta havia já passado cinco anos. Resolvera voltar

            Enquanto isso, em Pitombeiras, a ansiosa espera da família. D Rosário já com os filhos crescidos o pequeno com seis anos completo “aperriando”[pertubando]a mãe com várias perguntas:
                   __ mamãe como é o meu irmão Brás?
                   __ Um ótimo rapaz, bonito, muito inteligente, moreno parecido com o teu pai
                   __ Ele ficou rico? Ele vai trazer um brinquedo para mim ela vai chegar quando?
                   __Pára Adalberto eu não sei de nada! Só sei que ele vai chegar breve, mas só saberei o dia certo se ele vai mandar telegrama, mas por outro lado , se o  conheço bem , acho que ele vai fazer surpresa!

                  De fato a D. rosário acertara. Brás não mandou telegrama estava voltando a sua terra natal, passando pelos os mesmos lugares, tudo diferente, agora avistava as lavouras, casas, gado, quintais  tudo pela janela da marinete, pagara caro a passagem, mas o pau de arara estava extinto.e mesmo que não estivesse, ele preferiria o meio de transportes mais moderno, pois tinha dinheiro o suficiente para isso e menos dias de viagem, menos de o dobro dos dias que a pau de arara levava.
                  As rodovias eram as mesmas, mas modernizadas. A bagagem não era mais uma maleta, nem um saco e sim três malas gigantes e alguns volumes.Não estava rico como o caçula pensara, mas ganhara dinheiro suficiente para montar o seu próprio negócio. Queria ver alegria nos rostos dois irmãos do pai e da mãe. Para cada um deles alguma coisa especial, até a gaita era nova, mesmo assim guardou a velha. Vez em quando tocava um pouco no caminho, não as canções antigas, e tristes, mas alegres, tais como “São Paulo quatrocentão” de Mário Zan, “Rapaziada do Braz” e” O baião da serra grande”  agradando os passageiros companheiros de viagem. com vivas e assobios para a felicidade do Braz. O motorista anunciou á ultima parada, pois faltavam apenas 3 horas para chegarem. Num restaurante de beira de estrada todos desceram, tomaram o café da manhã. Ele aproveitou e tomou um banho rápido, precisava chegar trocado, limpo e perfumado.

             Era domingo, todos haviam ido á missa pela manhã, estavam tomando café quando ouviram uma buzina de um Ford carro de praça. A rua lotada de gente,  era raro um carro assim na porta de uma casa pobre, ainda mais daquela família tão humilde. Todos correram para calçada surpresos incrédulos. Desceu Brás com calça de tergal de vinco, uma camisa de linho branca, sapatos pretos brilhantes, cabelos  feito um topete com brilhantina e óculos escuros:
              __Mamãe não está me reconhecendo? Eis aqui o teu filho de volta ao lar!

              __Meu filho me dê um abraço! Como estais bonito e robusto! Nem parece aquele franzino rapaz que saiu daqui!
              __Papai venha cá também, depois abraçarei um por um dos meus irmãos!
              __ Meu filho como tu mudaste ficou um homem graúdo e elegante!
    
                 E assim foi abraçando com ternura a cada irmã, cada irmão, colocando o caçula no colo falou:

                          
                 __E  tu, já és uma rapazinho, já ajuda a mamãe?
                 __Sim Brás, tu és que nem eu imaginava, muito alto!
                       Ele começou a abrir as malas e distribuir os presentes para a família toda
                        Para a mãe, enxoval de cama mesa e banho vestido e sapatos, para o pai um rádio de madeira. um despertador e um relógio de bolso, para as irmãs e irmãos maiores, roupas , calçados e perfumes.Todos agradeceram
                 O seu irmão encostado a ele foi logo dizendo: __Quero ir para S.Paulo também!
                 __Nada disso tu vais trabalhar comigo, nada de ir para lá, já temos como sobreviver aqui ta? Disse o Braz.           
                __Adivinha o que te trouxe para o meu mano caçula? Uma roupa um par de sapatos e um ônibus de brinquedo!
                   __Oba, eu nunca tive um desse, só brinco com carrinho de madeira e bola de meia!
                  __  Meu  filho em nome de todos eu agradeço por tudo, mas não precisava exagerar já que tens que montar o teu próprio negócio!
              
                      __Não se preocupe, tenho economizado todos esses anos para isso, e Deus me ajudou muito!
                      __Claro, desde quando cumpriste a promessa, de mandar o primeiro ordenado, para comprar a máquina de costura, Deus te recompensou muito!E vai recompensa-lo por toda  vida.
                     Assim o Brás montou seu próprio negócio, prosperou muito fazendo aquilo que ele mais gostava, pães e doces, numa belíssima padaria sem igual concorrência.
                 

                           FIM.

             

                                          Dora Duarte

domingo, 1 de maio de 2011

Os últimos pau de arara (parte ll )


                                           Parte ll
_Reze muito assim como eu vou rezar e que Deus te acompanhe e te faça muito feliz. E não esqueça de estar sempre me mandando notícias!


                 Estrada longa empoeirada, sem fim, sol ardente.Nas primeiras horas de viagem o silêncio dos “paus” de arara era quebrado pelo o ronco do caminhão, que parecia um gemido.Iam ficando para trás, primeiro terras infértil,  gado magro, casas de palhas, ou de   taipas, casas de reboco mal  caiadas faltando um pedaço, com meninos barrigudos nos terreiros embranquecidos , mulheres sentadas na porta de sua casa, catando piolho na cabeça de sua filha. Cenário triste de um povo sofrido e castigado pela seca. Depois a paisagem muda para vastos canaviais.

              De repente o silêncio é quebrado pela freada do caminhão para que todos desçam para o almoço coletivo, feito na sombra de um arvoredo, ou debaixo do caminhão. Cada um abriu seu saco, comeu primeiro a farinha com a carne assada, poupando para que desse para os dez dias ou mais de viagem, trocaram uns com os outros , rapadura, doces e assim foram- se familiarizando e se tornando unidos com os mesmos ideais na cabeça, uma nova vida!
          
             Novamente o caminhão pegou a estrada. Começaram a conversar entre si, o Braz tirou a gaita da sua mala e começou a tocar, sabia várias músicas alegres, mas não sabia porque lembrou naquele exato momento das canções que sua mãe cantava no roçado e dos assobios do seu pai, um nó na garganta  uma saudade lhe fez tocar elas, doeu mas conseguiu!

             Anoiteceu, só  avistaram escuridão, todos ali já estava ciente que dormiria como pudesse, pois as pensões de beira de estrada eram caras, ninguém ali podia pagar.

Uns deitaram em cima da lona, outros armaram redes debaixo do caminhão e foi lá que os três amigos se alojaram, só o João Batista tinha levado rede.Eram os mosquitos picando, um sono inquieto, mas vencido pelo cansaço abavam dormindo.


     Assim foram dias e noites de sofrimentos. Atravessando vários estados do nordeste, cruzaram o rio S.Francisco, entre Alagoas e Sergipe, enfrentaram chuva, sol e vento. dias quentes, noites frias principalmente na região de Minas Gerais  primeiro estado do sudeste a passarem rumo á S.Paulo.

                 Finalmente, depois de cruzarem o estado da Guanabara, chegam no estado de São Paulo. O  caminhão pau de arara parou,  como de costume toda vez que ia e vinha, na cidade de Aparecida, para todos visitarem a igreja de N.S. Aparecida padroeira do Brasil, não poderia deixar de visitar a cidade de grande romaria pelos os brasileiros devotos da padroeira. Foram momentos de devoção e oração, assistiram a missa, todos almoçaram aquele resto de farinha e carne já velha, mas ainda dava para alimentar, outras comidas tinham acabado, teria que agüentar, que poupara ainda tinha sobrando, quem não estava por fim.

            Chegaram na maior metrópole do país, olhos espantados em todas direções, não podia imaginar como seria a vida naquela imensidão de prédios, casas, carros indo e vindo.
 Desembarcaram numa praça no Bairro da Luz, onde o tio do Braz os esperava.

            __Até que enfim não é Braz?
            __A bênçâo tio José
             __Deus te abençõe, nem preciso perguntar se fez boa viagem, já sei como é horrível, porque passei por tudo isso!
            __É mesmo, estamos moídos. Trouxe os meus amigos para tentar também nova vida aqui, podes os abrigar na sua casa,  por um tempo provisório?
           __sim claro, a casa é pequena, mas o coração é grande!
           __Vamos lá, vamos  todos no meu caminhão que está estacionado do outro lado da praça ,quero dizer no que estou trabalhando , caminhão de frete, já estou  juntando dinheiro para comprar o meu próprio, só estou precisando de um sócio, quem sabe tu arrumas um emprego logo e me ajudas a pagar?
           __Sim tio com certeza!

             Bairro da Lapa era lá que o seu tio morava, numa casa geminada de uma vila muito. Moravam juntos, a mulher e dois filhos paulistinhas, pequenos um de três anos e outro de quatro. A casa só tinha um quarto, uma cozinha e uma sala grande, era lá que os três amigos iriam dormir, em redes.

                 Descansaram dois dias e logo foram procurarem emprego com ajuda do seu tio.Chegaram no centro, próximo avenida S. João, olhos atentos e admirados ao ver tudo aquilo, olham para cima dos arranha-céus, atravessam ás esquinas medrosos de serem atropelados, visitam praças, seu tio com uma câmera fotográfica que já tinha adquirido tirou fotos nas praças e ruas, visitou a galeria Preste Maia, aonde aqueles matutos assustados, tentaram e conseguiram subir naquela escada rolante, O João Batista quase desequilibrou e rolou de ponta cabeça, se não fosse o apoio do seu José que já havia se acostumado. Ele fez todo aquele percurso, para eles aprenderem as mesmas coisas que ele tinha aprendido.O próximo passo dos novos emigrantes, era procurar emprego no centro, nos bares, ou restaurantes, era o comércio, que mais empregava de imediato, ou então a construção civil. Eram os nordestinos que ajudou S.Paulo crescer de tamanho e altura, com a sua mão-de-obra mesmo sem qualificação.
                   Logo os três aprenderam a andar de ônibus do bairro da Lapa ao Centro da cidade. Um a um foi conseguindo um emprego. Quem apresentou os dois aos respectivos empregos, foram os visinhos de seu José que trabalhavam lá e arranjou para  eles. O João Batista no restaurante  Sopão a tradicional sopa da rua  S. João, o Genésio, numa lanchonete próxima, o Braz estava sendo ajudante de caminhão junto com o tio,mas não queria aquilo, queria uma profissão  que lhe desse futuro e pudesse um dia voltar e montar um negócio.Estava com o tio provisoriamente, até poderia fazer sociedade na compra do caminhão, mas só entrando com o dinheiro.
             
              Um belo dia quando fazia entrega de um frete de farinha de trigo numa grande confeitaria, dessas que serve chá da tarde, bufet e rotisseria  viu uma placa “Precisa-se de ajudante geral”. Não pensou duas vezes, entrou lá para se identificar e dizer que estava interessado. Saiu todo contente quando o gerente falou para ele no dia seguinte cedo, vir até ali. Saiu muito contente até assobiando...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

OS ÚLTIMOS "PAU DE ARARA" (conto relato em lll partes

                                      Parte l


Brás era um rapaz cheio de sonhos, morava na cidade de Pitombeiras, numa região muito seca do Nordeste. Pouco se plantava, o solo era árido, o sol  castigava as poucas plantações e o gado magro que se alimentava  da única planta resistente, o cacto,a água salobra nos açudes quase secos e até que a chuva voltasse, o povo sofria, sem trabalho,a colheita que os alimentavam, estava acabando, mas não perdia a esperança.em Deus  das coisas dali melhorar.
                     O Braz não pensava assim, não poderia esperar que Deus mandasse chuva suficiente, para haver mais prosperidade, esperar que tudo caísse do céu. Teria que fazer a parte dele, sair dali. Sabia que o mesmo Deus dali era o mesmo das cidades grandes, mas parecia que Ele olhava mais para o outro lado. Por intermédio de amigos e parentes que tinham ido lá para as bandas do Sudeste do País, soube inclusive que seu tio José de Arimatéia   já estava trabalhando em São Paulo,exercendo a profissão de chofer de caminhão.ele prometera através de uma carta , ao sobrinho, ajudá-lo a arranjar um emprego.
                  Daquela cidade, que nada havia para oferecer, ele já não tinha esperança, nem de ajudar á família e nem a si mesmo. Vivia de biscate, uma hora era mascate, vendendo de porta em porta:sabonetes, perfumes, aviamentos, meias...Porém, o lucro era pouco. Ás vezes acordava bem cedo para vender  tapiocas, cocadas, na estação de trem.Precisava ajudar aos pais, era o mais velho, o décimo de uma família de seis mulheres e quatro homens, encostado a ele só o irmão de quinze anos que ajudava o pai na lavoura, depois as mulheres e por último, os dois pequeninos, o caçula de um ano e quatro meses e o outro de dois meses ainda de colo.
                      . Brás ainda era de menor, estava perto  de completar maioridade, por isso  o seu pai Emanuel pediu que ele esperasse, para  apresentar se primeiro no exército,tirar a carteira de reservista e se liberado ,sim ,poderia viajar.


                    Ele olhava para a mãe Rosário, numa máquina de costura de mão, às vezes costurando á noite sobre à luz da lamparina, trabalhava fazendo calças e camisas de homem para um feirante que tinha uma barraca  na feira,ganhava por produção. Pensava e prometia logo em seguida:

                 ─ Mãe se eu for para São Paulo e conseguir logo um emprego, o meu primeiro ordenado, é para a senhora comprar uma máquina de costura de pedal nem que seja a prestação! Isso é uma promessa viu?
                ─ Ta meu filho, que Deus te abençõe e os anjos digam amém!
  
                 Quando era época da colheita da principal plantação, a mandioca, somente os maiores de casa iam, ajudar a arrancar, carregar os caçoais do jumento para fazer farinha. Seu pai alugava uma casa de farinha para a tradicional “farinhada” era uma semana de trabalhos coletivos.
                  Quando era para semear, milho, feijão,  maniva da mandioca e rama de batata doce, D Rosário deixava as suas costuras para fazer á noite e iam todos da família, inclusive os pequenos.  Ele gostava de ver a  alegria da sua mãe, apesar de tanta dificuldade, sorrir, e cantar umas cantigas que ele nunca  esquecera, principalmente quando ela estava no roçado.Sua mãe deixava os pequeninos brincando debaixo da sombra de um juazeiro, com uma cabaça de água barrenta e salobra, para eles beberem quando sentisse sede.Ao comando  dos maiores os incentivavam a plantar com alegria

Ele não, era carrancudo, sério, não conseguia sorrir presenciando tudo aquilo, ainda mais quando ouvia a mãe cantar apesar dela parecer feliz ,cantava canções tristes:

Sentia um nó apertado na garganta e pensava, Onde será que  a sua mãe tinha aprendido aquelas canções tão triste? Não ousava lhe perguntar, achavam bonitas, porém muito melancólicas e trágicas. Não era só a sua mãe, o seu pai também, assobiava  “Asa branca”, “Triste partida”,”Assum preto” eram canções tristes de Luís Gonzaga.
             
           Pensou, será que aquele povo habituou a conviver e gostar daquele tipo de canções que falavam em tragédias? Sabia que existiam, outras canções alegres e até assoviava vez em quando alguma, mas não sabia cantá-las.dando-lhe alento aos  pensamentos arredios.

              Brás tinha dois amigos muito chegados a ele. Os dois com os mesmos objetivos em  comum , o sonho de ir embora para S.Paulo. João Batista de dezenove anos, companheiro inseparável, era seu vizinho, tinha estudado na mesma escola. e o Genésio de dezoito anos, que ele conheceu  nas farinhadas que o seu pai vez em quando contratava por uma semana para ajudar, era o forneiro que secava a farinha, ensacava para  depois ser vendida na feira pelo o seu pai. Eram todos muito unidos, jogavam uma pelada no único dia da semana que respeitavam e não trabalhavam, o domingo.
  
             Final da década de50, ano de 1957 foi um ano de muita seca. Brás e seus amigos já tinham sido dispensados do exército, adquirido a carta de reservista e estava esperando a resposta, de uma carta que tinha sido enviada, endereçada ao  seu tio José de Arimatéia.

              Nos últimos meses tinham sido crítico, nem conseguia vender, os objetos pela as portas ninguém tinha dinheiro. Os seus amigos a mesma coisa, tudo sem ter o que fazer, esperando também ajuda de parentes do de S.Paulo:

          Estava conversando com os amigos quando ouviu seu irmão Adalberto correndo em sua direção com um envelope verde-amarelo nas mãos:


             ─ Olha mano o que chegou!
              ─ Tomara meu Deus que seja boas notícias! Os amigos em volta querendo saber também., ele abriu o envelope e já deparou com uma foto do tio pousado na frente de um caminhão. Sorriu, coisa rara, e os amigos  torcendo:
              ─abre e leia logo essa carta homem de Deus!

              ─Ta, calma vou ler , e começou abrindo mais o sorriso e pulando diz:

              ─eu vou para S.Paulo! Tio José vai me emprestar o dinheiro da passagem!
               Todos gritaram: ─Ora viva!
                ─ Que bom, disse João Batista, o meu padrinho prometeu também emprestar, disse-me que ia vender uma bezerra para a minha passagem. Assim poderemos ir juntos.
             
                 Só o Genésio ficou calado, cabisbaixo:
                   ─ que foi amigo? Perguntou o Brás.

                   ─ E se os meus primos que moram em S.Paulo não me mandar o dinheiro da minha passagem á tempo?
              
                    Brás e João Batista responderam simultaneamente:

                                     ─ a gente  espera!



             De fato, assim  fizeram. O padrinho do João Batista vendeu a bezerra, e já lhe passou o dinheiro, o tio do Brás, já tinha mandado o dinheiro pelo  o carreio para o sobrinho. Faltava  o Genésio.

          O Brás que sempre estava em contato com as pessoas que iam e vinham, para o Sudeste, ficou sabendo de uma notícia que o preocupou. O “Pau de arara” estava com os dias contados, era o único meio de transporte barato, seria muito breve substituído por “marinetes”  e o preço dobraria.
            
              Marinete, era  um pequeno ônibus com a frente parecendo uma boléia de caminhão com o bagageiro em cima e com uma escada de acesso.Na boléia era  reservada para a rara presença de mulheres e crianças e quando não ia, a vaga era preenchida pelo o ajudante. Seria mais confortável que o pau de arara. Esse pau de arara ,era um caminhão com bancos laterais feitos de madeira,  uma corda esticada no meio para apoio ou quem quisesse segurar e ir em pé e uma lona para cobrir em caso de chuva.O pau de arara,  ficaria somente para outros meios de transportes como: pequenos passeios, fazendas, feiras, comícios, bóias-frias,carregar eleitores em épocas de eleições e romarias.
O Brás correu e deu a notícia para os amigos e familiares, seu pai  o aconselhou  ir logo:
     
         mas pai eu e o João Batista prometemos esperar o Genésio.
         Se esperarem por ele, nenhum vai conseguir ir com tão pouco dinheiro chegar á São Paulo!
         ─ Espere, vou ver se arrumo  o dinheiro emprestado com a prefeita da cidade, eu ia mesmo pedir para  ti, se o seu tio demorasse um pouco mais! Ainda não fale nada a ele. Estou indo.
       
          D. Anita era a prefeita do lugar, muito querida pela a população. Era uma criatura caridosa.Todo o povo do lugar acreditava que ela não fazia aquilo com interesses políticos, independente de ser época ou não de eleição, ela estava sempre ajudando um ou outro dependendo da necessidade. Até mesmo como conselheira, quando alguém estava com problema pessoal ou social. Bastava esperar na fila..

        D Anita recebeu o seu Emanuel e também atendeu o seu pedido. Disse que falasse para o Rapaz que não tivesse pressa em pagar, se arranjasse primeiro lá em São Paulo.

         Seu Emanuel chegou com o dinheiro e já foi falando:

         ─ Está aqui, Braz vá chamar o seu amigo e tratem de arrumar as malas, pois pau de arara é só uma vez por semana, e já fiquei sabendo das notícias novas, a partir da próxima semana a marinete vai começar a rodar para o Sudeste do Brasil.
    
              D. Rosário chorando e ajudando ao filho á arrumar  mala ,  fazendo mil recomendações:
          
              Meu filho tenha cuidado com o frio, eu ouvi dizer que lá garoa muito e a temperatura é muito baixa, tu já tens problemas com sinusite, assim que tiver trabalhando, compre logo blusa de frio e que Deus te ilumine e abençõe o teu trabalho, teus passos, tuas  companhias, teu tio e família!
     
             ─ Ta  mãe, eu prometo que vou me cuidar, mas a promessa que eu fiz é do meu primeiro ordenado, mandar para a senhora  comprar uma máquina de costura de pedal.

              Chegou o grande dia, dia da despedida, hora da separação, todos os vizinhos e parentes na calçada da rua despedindo daqueles três jovens sonhadores que iam para longe dali em busca de dias, meses e anos melhores.

           Chegaram  ao centro da cidade onde o pau de arara já estava quase lotado, cada um carregando uma mala e um saco de comida. A viagem era longa, dez dias, isto é se o caminhão não desse o prego.  Era  estrada de chão, muita poeira se não chovesse e muita lama se Deus mandasse aquele bem tão precioso que faltava na sua terra.
           
              A bagagem que a mãe do Braz preparou com muito carinho e  os olhos marejados de lágrimas estava arrumada assim: Na mala: 3 calças, 3 ceroulas, 2camisas mangas curtas 2 de manga comprida, sabonete, pasta de dente,brilhantina, um pente, um lençol. uma toalha feita de saco de açúcar e uma  gaita de boca que ele gostava de tocar.. No saco de comida havia: uma colher, uma faca, muita farinha  de mandioca seca, carne de sol assada, uma lata contendo um doce de jaca que ela fez especial para ele levar, rapadura , alguns beijus secos e bolachas.
             Dos seus amigos, a mala ele não sabia o que levavam, certamente quase as mesmas coisas . No saco quase tudo igual, só o  João Batista levava algumas coisas a mais, uma lata de goiabada, um queijo de coalho doado pelo o padrinho dono de gado da região e alguns cocos  secos e verdes sem as cascas.

           Hora da partida, era muito chororô, parecia que estava saindo um enterro, menos o Braz que era duro em chorar, chorava por dentro em ver a mãe em prantos. Parte o pau de arara, todos acenando com as mãos, mas antes da saída D. Rosário, o entregou um terço e disse:
            Continua...
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