Páginas

Seguidores

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O burrinho e o nascimento de Jesus




Finalmente chegamos a Belém. A viagem foi mais longa do que deveria e muito mais penosa do que eu poderia imaginar lá atrás quando vieram me buscar no curral falando que levaria Maria, esposa do meu patrão José, até Belém para que Ela acompanhasse o marido que deveria se apresentar na cidade para o Censo do Erodes.

Cruzamos de Nazaré a Belém em uma jornada insana para um simples recenseamento. No caminho apareceu uma estrela que, segundo Gabriel – Anjo da Guarda de José – é um sinal dos Céus para anunciar o nascimento de Seu filho,  Jesus. Ora, vou confessar que apenas como animal de tração dessa viagem, meu entendimento é limitado com relação a essas coisas. Nunca procurei me intrometer nem entender dos assuntos dos homens. Faço meu trabalho em troca de alimento, água e descanso em pouca sombra que é mais do que o necessário pra comportar o meu pequeno físico. Nunca fui de exigir compreensão nem piedade mesmo de meus donos. Nunca fui de buscar entendimentos ou lógica nas coisas feitas pelos homens, mesmo porque, afinal, eu sou um burro.

Mas tenho de confessar que desde o primeiro instante em que a jovem senhora subiu em meu dorso, um ânimo especial tomou conta de meu espírito como se aquela doce moça na flor de sua formosa juventude carregasse consigo algo de muito especial, de muito valioso. Não senti seu peso em nenhum momento da viagem. Não A ouvi reclamar em nenhum momento – nem mesmo sob o sol forte,  ou sob o frio das noites no deserto, ou de um balanço mais desastrado de minha parte ao subir e descer tantos morros.

Fiz um diário desses dias de viagem indo para Belém. Registrei desde nossa saída de Nazaré, passando pela casa de Isabel, seguindo pelo caminho em marcha bem lenta por conta do valor da carga. Falei das aparições pirotécnicas do Gal (Gabriel) que sempre me assustavam, mas serviam de diretriz para o José. Comentei da teimosia de José em tentar atalhos e se distanciar da Estrela. Apresentei alguns outros animais que nos fizeram companhia em alguns momentos da viagem como um coiote, uma gralha, um lobo e um cervo.

Mas agora chegamos a Belém só nós três. Exatamente como saímos de Nazaré. José já não tem mais sandálias. Eu já não tenho mais ferraduras. Mas ambos temos Maria e em seu ventre Aquele que trará caminhos novos para todas as sandálias e ferraduras desse mundo.

E então chegamos a Belém, finalmente. Mas a cidade está cheia por conta do Censo do Herodes. Pensei que ficaríamos em algum hotel ou num vale com rio de água fresca, onde eu poderia tomar um bom banho e esticar as minhas canelas magras e ressecadas pelo sol e pela poeira das estradas. Mas qual não foi minha surpresa, ainda durante a viagem, ao saber que não tínhamos reservas para lugar algum. José estava contando em se hospedar na casa de alguns parentes – primos pra lá de distantes que nunca conheceu – mas todos em Belém aproveitaram o Censo. Resultado: Não há vagas! Em nenhuma pousada ou casa de parentes.

O que fazer agora? Maria já começava a apresentar sinais de que o menino Jesus não estava disposto a esperar mais tempo pra nascer. José entrou em desespero pelo estado de Maria – mesmo sendo um homem de Fé sem igual – e começou a bater de porta em porta suplicando para darem guarida a sua mulher que estava em vistas de dar a luz. Mas a única coisa que ouvia é que a casa já estava cheia, que não havia lugar pra mais ninguém. O que fazer agora? Eu mesmo sentia a doce senhora se contorcendo sobre meu dorso, enquanto observava a agonia de José correndo por todas as ruas da cidade. Foi então que decidi – e isso Lucas esqueceu de comentar em seu Evangelho– ir até um estábulo que se via a partir do ponto em que eu estava parado com Maria. Chegando lá verifiquei que o local estava praticamente vazio. Os animais ainda estavam sendo recolhidos, os pastores ainda estavam no campo. Só encontrei um boi nas proximidades da entrada do estábulo.

- Ei, ei, ô burro, onde pensa que vai? -  disse ele com grama entre os dentes.

- Viemos de Nazaré e essa Senhora está prestes a dar a luz. Meu patrão procura uma vaga em alguma casa ou pousada, mas ninguém quer ou pode recebê-los. Vendo seu desespero, resolvi vir para o estábulo para que, pelo menos, a Senhora possa se acomodar com mais conforto do que teve durante esse tempo todo no dorso de um burro magro.

- Nazaré? Tenho uns primos por lá. Talvez você os conheça: Jamal, Benjamin, Hod, Halmak, Kauffman…. (e continuaria a ladainha se eu não sentisse um forte chute da barriga de Maria na minha nuca)

- Perdão, Sr….

- Simão, disse ele.

- Perdão Sr. Simão, mas a jovem senhora está muito cansada da viagem e, como o meu patrão ainda não retornou, será que poderíamos entrar para que ela descansasse um pouco até que encontremos uma casa para abrigá-la?

- Claro burrico! E deixa essa coisa de “senhor” para os cavalos dos romanos. Com eles é necessário esse tipo de formalidade.Enquanto isso,eu me deitava para que Maria pudesse tomar lugar de forma mais confortável no meio da palha).

Nisso chegou José, ofegante e com os olhos cheios d’água, exclamando que não conseguira encontrar nenhuma casa para acomodar Maria. A Senhora o tranqüiliza e diz:

- Nosso burrinho me trouxe até aqui e, com as dores que sinto, acho que não teríamos mais tempo para nos acomodarmos na casa de desconhecidos ou em pousadas,  mesmo que existissem vagas. Que seja conforme a vontade de Deus.

José acomodou Maria da melhor forma possível, arrumou o estábulo que já estava limpo e, como o Simão -  o boi entrão – não parava de falar de seus primos e primas (contei 40 durante esse tempo) num mugido misturado com irritantes sons de capim sendo ruminado, colocou-nos pra fora do estábulo.

- Mas Zé, meu velho, eu também? Eu tô quietinho aqui. É esse boi que está fazendo barulho. (reclamei com um zurro longo de indignação enquanto era puxado pelo cabresto)

E ficamos os dois lá fora. Eu, apreensivo com a minha Senhora.

Pelas frestas da porteira, eu vi José separar um balde com água e arrumar uma manjedoura com um pouco da palha guardada no estábulo. Meu coração palpitava e praticamente não conseguia mais ouvir as baboseiras que o Simão falava. Só pensava na minha Senhora e no Seu menino. Só lembrava dos momentos da viagem. Só sentia no fundo de minha humilde alma que algo de extraordinário enchia de graça aquela moça tão delicada e simples. Mas…. eu sou um  burro, e, como tal, não entendo dos misteriosos caminhos que Deus escolhe para os seres humanos.

E no meio desses pensamentos, recordações de viagem e novas esperanças, olhando para a cara do Simão que não parava de falar e ruminar, eu ouvi um choro de bebê. Corri novamente para a porteira do estábulo e vi José erguer um menino pequeno e aparentemente frágil que chorava com a força de uma tempestade.

Passados mais alguns minutos, José veio até a porteira do estábulo e, abrindo-a, disse olhando pra mim e para o Simão:

- Nasceu, burrinho. O menino nasceu. Venham vê-lo.

Nem preciso dizer que dei um passo a frente do Simão e fui me colocar junto a manjedoura pra conhecer a criança. O Simão veio atrás falando alguma coisa sobre um vizinho de uma prima que era garçom fenício em uma lanchonete de comida árabe em Nazaré. Mas eu já não conseguia ouvir mais nada. Junto à manjedoura, voltei-me para ver Maria que parecia dormir um sono merecido. José, ao lado Dela, tinha um sorriso mais iluminado que a própria Estrela Guia.

- Schiiiiiiii!!!!! Vai assustar o menino.  -  disse eu em voz baixa, mas de forma firme para o Simão.

Foi só então nesse momento que ele se calou e veio olhar o menino. E ficamos nós dois ali, olhando a criança. Cada um querendo ficar mais perto da manjedoura. Eu sempre dando uma bronca ou outra nos barulhos que o Simão fazia. Ele, querendo retomar a conversa da garçonete casada com o vizinho árabe que tinha um restaurante de comida fenícia  … ou qualquer coisa parecida com isso. Ele mugindo… eu zurrando… José nos mandando ficar quietos, Maria rindo de forma discreta daqueles dois patetas rodando em volta da manjedoura de seu Adorado Filho.

Mas e o menino? Sim, senhores e senhoras. Tenho de confessar para o desapontamento de muitos de vocês que o menino Jesus era como um menino qualquer que nasce todos os dias em qualquer lugar do mundo. Não vi Legiões de Anjos. Não vi o estábulo ser inundado por canções celestiais. Não percebi nenhuma Luz Divina pairando sobre nós. A pouca luz que havia era de um lampião pendurado numa coluna de madeira do estábulo. Era tão pequena e fraca aquela chama, mas iluminava o suficiente para se ver tudo dentro daquele pequeno espaço. Formava-se, com isso, um jogo de luz e sombras que chamava a atenção do menino na manjedoura. Sombras de um burro e de um boi que rodavam a sua volta. E foi então que, brincando com essas sombras, o menino sorriu pela primeira vez. E seu riso era igual ao riso de qualquer criança. Assim como seu choro, ouvido enquanto estávamos do lado de fora do estábulo, era igual ao choro que qualquer pequenino ser humano quando nasce.

E eu, na minha humilde condição de montaria escolhida para carregar uma preciosa carga de Nazaré até Belém, compreendi que o Verbo se fez carne não para ser diferente da carne, mas para fazer com que todos pudessem perceber que toda carne pode fazer seu trabalho para buscar ser semelhante ao Verbo. 

Feliz Natal!!!

PS:  O Gabriel apareceu dizendo que daqui a pouco chegarão uns pastores com umas ovelhas e também uns reis magros (ou magos, não entendi direito) montados em seus camelos. Só quero ver ter lugar pra todo mundo aqui dentro.

- Bem que agora a gente poderia ir para um hotel, hein José? – disse eu.

- Todos nós já ganhamos o maior presente desse mundo, meu querido burrinho.

E ele estava certo
.
  (desconheço o autor)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mês do foclore brasileiro( O poço) lenda urbana)


O poço cheio de mistério (relato)

Aconteceu  quando o casal Hélio e Salete comprara aquela casa na rua Gaspar Coqueiro.

Uma casa já velha, construída nos moldes antigos. Naquele tempo quase não tinha água encanada nos bairros da periferia de São Paulo .Ao lado de fora em frente á cozinha, um poço muito profundo, onde a água era puxada por um motor elétrico, a chave de ligar e desligar era na cozinha.

Começou acontecer coisas estranhas  na casa: primeiro um  pôster desprende dos pregos da parede e vai parar no meio da sala, detalhe, com a casa toda fechada. Salete que era muito corajosa ficou intrigada, mas não assustada. O que não aconteceu quando ela ouviu no meio da noite, o barulho da caixa dágua enchendo, o motor ligado. Perguntou ao marido se foi ele, esse estava dormindo   e respondeu “Tá louca, não está vendo eu aqui!”

Passaram alguns dias... Novamente o motor ligado, ela desligava, alguns instantes o barulho novamente, ela olhava na chave, estava ligada. O marido resolveu trocar a chave do motor.

Mas, vez em quando tornava a ligar o motor, aquilo estava  os deixando nervosos. Resolveram não se importar, parou...Só que passaram a escutar choro de uma criança vindo lá de dentro do poço, primeiro pensavam ser impressão. A dona da casa comentou com os vizinhos, foi dito que também escutavam o choro  ali, sendo que ninguém tinha  criança pequena na redondeza.

 O mistério continuou por muito anos. A água encanada chegou no bairro, o poço foi soterrado com lixos e entulhos, mas, vez em quando ouvia-se aquele choro infantil

Dois filhos, um menino e uma menina do casal nasceram e cresceram naquela casa, porém como eram muito pequenos não se importavam com aquele choro vez em quando...

Um dia uma amiga sensitiva da Salete foi visitá-la, começou arrepiar, antes de ouvir a história do poço, ela falou que a casa tinha algo estranho, que tinha alguém enterrado ali.

A dona da casa assustou-se e perguntou:

como sabe disso?

Eu sinto e é uma criança dentro do poço, ou  foi  jogada, ou caiu no poço!

O tempo passou, casal se separou. A Salete foi quem saiu de casa, os outros ficaram morando lá . No desquite o casal entrou em acordo, a casa ficou para os filhos. A filha casou já grávida, resolveu dividir o terreno e construir uma casa para morar. Depois que teve o bebê, ouvia um choro, corria para vê-lo, este estava dormindo feito um anjo.

sábado, 13 de julho de 2013

A Semente (conto de ficção)


                           


               Um belo dia de sol, mas com um vento sul medonho, subi a Rua João Mota Espezim, apressadamente, pois já estava atrasada para um compromisso importante.

                De repente, vi uma coisa estranha, marrom brilhante, rolando sobre o asfalto, carregada pela força do vento. Não queria parar pelo o motivo já citado e por causa da ventania muito forte daquela de arrepiar tudo. Só que a curiosidade falava mais alto. Resolvi correr atrás daquele objeto estranho.

            Depois de uma carreira doida em zig-zag, finalmente alcancei “aquilo”. Era uma semente grande, com cuidado apanhei com as duas mãos, as fechei  e abri em seguida. Foi tamanha a minha surpresa em perceber que ela tremia e tinha os olhinhos que piscavam para mim.

            Comecei  falando , fazendo-lhe dezenas de perguntas como se tivesse a certeza dela me responder e respondia-me sim com os olhos piscando. Daí tive uma ideia e disse à ela:

Para cada pergunta que eu fizer, se for sim, uma piscada, ser for não, duas piscadas. Ela entendeu com uma boa piscada. Assim num diálogo estranho, diferente,  foi uma forma inusitada de comunicação entre a semente e eu. Assim contou-me sua história através das minhas perguntas e as piscadas de olhos:

            “Eu sou uma semente importante, vim carregada pelo vento, preciso ser plantada, porque a minha espécie estar em extinção. Cortaram minha mãe,o tronco,meus irmãos,os galhos e minhas irmãs, as sementes ,pegaram para artesanato. Somente eu escapei, mas foi carregada pelo vento “.

            Pediu-me para replantá-la, regá-la, cuidar bem para que ela pudesse sobreviver.

            Foi assim que eu entendi e foi assim que a plantei no jardim do Conselho Comunitário. Imaginei que, ela é uma semente especial, filha da árvore que deu o belíssimo nome da nossa mãe pátria. Acredite se quiser.

 

                      Dora Duarte

quarta-feira, 26 de junho de 2013

QUEM TEM MEDO DE BALÃO?



                                                     Relato

Aconteceu há muitos anos, num povoado pequeno , era de costume tanto soltar balão, como ir às novenas de época dos santos juninos. Simplesmente soltavam, não sabiam o paradeiro e nem se importavam para onde iria aquele imenso balão, nem muito menos se ouviam falar de incêndio.

Certa noite sem ser de lua crescente ou cheia, de uma escuridão profunda, aquele povo com lamparinas nas cabeças para iluminar a única estrada que dava acesso ao um  caminho de uma casa, onde aconteceria o último dia da novena de Santo Antônio, mesmo sendo noite de acender as fogueiras de São João, clarão só nos terreiros das casa.

A estrada por onde o povo caminhava, era deserta, tinha um  cemitério, famoso por muita gente falar que aparecia alma penada. Naquela escuridão, nenhuma vela acesa, mas a “procissão” de lamparinas nas cabeças passavam. A maioria mulheres com seus filhos segurando as barras da saias das mães.

Depois dos festejos, encerramento da novena, aquele povo volta pela mesma estrada

De repente com a luminosidade precária das lamparinas se enxergou um pouco lá na frente, um vulto que parecia um gigante, negro, sem braços , sem cabeça, ,nem  pernas, era como se fosse uma imensa barriga que se mexia, rolava, subindo e descendo.

O susto foi coletivo, ninguém tinha coragem de seguir com aquele “monstro medonho”, o medo era maior, até porque era em frente ao cemitério, . Parados ali estáticos, o àquelas mulheres, alguns homens e crianças entreolharam-se. Alguém perguntou quem se arriscaria seguir em frente. Rumores, choros, gemidos surgiram, mas atitude que é bom, não apareceu por alguns minutos.

Até que um menino aparentando uns onze anos, poderia ter ,porém, era muito franzino, calado correu à frente, num impulso avançou em direção àquela coisa, atracou-se à ela e o mistério foi desvendado: era um balão colorido imenso que havia caído, parecia negro por causa da escuridão.
Dora Duarte
                                                   

domingo, 26 de maio de 2013

"A Esperança é a Útima que Morre"(releitura)


                          


                                (Releitura de um conto (autor desconhecido)

Um fazendeiro tinha um jumento muito bom, trabalhador, dedicado aos afazeres rotineiro da fazenda. Era um exímio servidor ao seu senhor.Um bom carregador de lenha, sacas de farinha, de feijão...Tudo dentro do que era possível , nas redondezas, onde camioneta não tinha acesso,o animal carregava.

Certo dia, pela manhã  bem cedo, o dono o procurou pelo pasto  e não o encontrou. Ficou desesperado, o chamou pelo nome e nada. Na busca desesperada, sem muito resultado, mandou os seus peões o procurar minuciosamente. Cada um seguiu uma direção diferente.

Lá por volta do meio dia, sol à pino, um dos peões o achou caído dentro de um poço profundo, desativado sem água. Logo correu para dar a notícia ao seu patrão, que foi imediatamente ao local do acontecido....Olhou para dentro do poço, ficou muito triste, por mais que pensasse numa solução de tirar o jumento lá de dentro, era quase impossível, pois era muito profundo e o  animal dele poderia está com as pernas quebradas e não aguentar, seus empregados não tinham como descer e nem subir com ele. Então com muita tristeza resolveu deixá-lo lá, mas antes mandou jogar terra para aterrá-lo, o sacrificando para não sofrer tanto com a morte.

Quando todos foram embora, o jumento que presenciara tudo, por amor ao seu dono e a sua vida, contrariando o que pensavam sobre ele, começou a amassar a terra caída e bolos de barro que caía da ribanceira a amassar, amassar pacientemente, lutou muito. Conforme foi amassando, ele foi aterrando o poço, contudo ia subindo de  tal forma que chegou a superfície, onde enxergou o horizonte são e salvo, apenas alguns arranhões.

O inacreditável aconteceu....

sábado, 11 de maio de 2013

A velha Cadeira


                                 

imagens emprestada do google



Estava ela ali bem diante dos meus olhos, aquela velha cadeira próximo ao um rádio moderno, que me remeteu aos anos 60. Muitas lembranças vieram visitar minha mente em raios de segundos. Parece que estou vendo o meu velho pai sentado nela, a velha cadeira de balanço, ao lado do rádio (o bem mais precioso da casa), fumando seu cigarro de palha e ouvindo as últimas notícias sobre o golpe militar (Revolução 1964) no famoso programa “A Hora do Brasil”. Quando fecho os olhos parece que ainda ouço aquela clássica música “O guarani” do autor Carlos Gomes.

As Notícias corriam mascaradas sobre o que acontecia no nosso país. Na hora que surgia uma voz que dizia: ”edição extraordinária”, lá em casa ninguém abria o bico, para ele ouvir melhor. Era repressão lá em Brasília e lá em casa também. Nem ao menos um dos membros da família tinha o direito de perguntar o que estava acontecendo. Só fiquei sabendo as causas após anos, claro, nos livros didáticos e nem todos revelaram a verdadeira história “mascarada” como foi a primeira vez noticiada. 

Um dia, porém, surpreendi minha mãe sentada naquela cadeira de balanço num dos momentos raros, chuleando um vestido, novamente cantando aquela velha cantiga de guerra, que falava de uma carta dum soldado atingido e nas últimas para morrer, escreveu a sua mãe e namorada, fiquei chocada. Despertou-me uma curiosidade, interrompi o canto dela e perguntei se a guerra  tinha acontecido na nossa pátria, nunca tinha ouvido falar. Da primeira vez ela não me respondeu, mas decerto o meu pai havia comentado, pois naquele dia me respondeu pausadamente: ”Não, no Paraguai, mas o ilustre desconhecido era um soldado brasileiro”.

Hoje ao ver o contraste, rádio velho, poltrona nova, rádio novo, cadeira velha, como peça de decoração, fico imaginado... Quantas histórias vividas têm por trás destes objetos!

                 Dora Duarte

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A árvore mal-assombrada (relato)


 

 
Foi num clima de uma seca violenta naquela época, exatamente  ano de 1977, lá no Nordeste brasileiro era uma carência muito grande de água, o solo sedento de chuva , especificamente no sertão e também no agreste, num pequeno lugarejo chamado “Barra do Geraldo”, que aconteceu esta história...

Devido a escassez, o que tinha em casa, era para beber e cozinhar ,Aquela gente ia longe para lavar  roupas . Neste dia, na casa da minha avó materna, (eu morava com ela), era muita gente da minha família que tinha chegado do Rio de Janeiro.

Chegou:  a minha mãe, tias  tios, primos e primas. A casa cheia, com tanto, mais roupas sujas para lavar. E foi nesta circunstância, na ida ao açude que ficava bem  distante dalí, que  aconteceu um fato muito estranho.

     De véspera  a minha mãe perguntou:

 ─ Vamos  se reunir , para  ver  quem vai sair  amanhã   lavar toda roupa . Perguntei a minha avó:

           ─ Vó  quem vai?

          ─ Vai eu,vai você ,sua tia  e sua prima. Peça amanhã ao seu avô para preparar o cavalo. O açude é muito longe , temos que sair de madrugada.

 

Desde muito criança, ouvi falar de uma árvore assombrada, Dizia o povo que todo cavalo que passava debaixo desta árvore se assustava,emperrava, há ponto de levantar as patas dianteiras e não seguir em frente. Confesso que não acreditava muito nessa história de assombração, porém tinha curiosidade de um dia passar lá e conferir, se era verdade ou mentira, e nesse dia da lavagem de roupa, era uma chance, pois  por este caminho era que a gente ia passar.

Saímos muito cedo, às 4 horas da manhã  estava muito escuro ainda. Na frente, eu montada no cavalo com a cangalha cheia de trouxas de roupas e minha prima que era bem menor na garupa. Ela tinha 7 anos de idade e eu 11  , a minha avó  e minha tia atrás, cada uma com um balde cheio de coisas. O da minha avó:  o sabão,o cachimbo, o fumo e  o da minha tia, lanche pra gente  comer, aguentar a fome até a volta .No caminho inteiro eu ia pensando naquela história da árvore assombrada, duvidava, queria ver pra crer, tirar à limpo....

          Quando foi se aproximando da árvore, o cavalo foi ficando estranho, mudando o comportamento, agitado, as orelhas levantaram,  eu percebi que ele estava nervoso. O meu coração começou acelerar, a pulsar rápido. Quando  faltava uns dez metros mais ou menos desta árvore, o cavalo parou. Eu levava comigo  um galho de mato com folhas, que se chama também de  “cipó ”, no que ameacei a dar umas cipoadas de leve para ele seguir em frente, ele só rodopiava e não saia do lugar. Foi uma peleja, pelejei. Com muito custo, ele seguiu lentamente assustado.

         Ao chegar à travessia debaixo da árvore, o dia já estava amanhecendo, apesar da claridade, debaixo dela estava escuro, porque tinham  matos que a encobria  e a ensombrava. O cavalo desta vez empacou. Na hora, comecei a insistir, foi pior, ele andava de ré, pulava de ré, pulava desassossegado por várias vezes, parecia um touro numa tourada, .Foi quando a cangalha rolou e eu rolei  junto com ela , a minha prima caiu primeiro e fui a última caí. Quando olhei, ela estava estirada no chão. Vi também o cavalo relinchando e levantar as patas dianteiras .

A minha avó e tia que vinha atrás viu tudo. O cavalo não ia de forma alguma. Foi aí que eu passei acreditar naquela história  que era de verdade mesmo aquela história .Depois do susto, já tinha amanhecido o dia, a minha prima voltou para chamar o meu avô, não era tão longe. Ele veio arrumou a montaria no cavalo, ele saiu puxando o cavalo, eu  à pé atrás  para tanger o animal, desta forma fizemos a travessia , foi difícil. Daquele dia em diante, nunca mais me  esqueci daquela árvore assombrada.

                     Eu Erotildes Maria dos Santos, autorizo a Dora Duarte a escrever este relato.
 
 Escrito e postado por: Dora Duarte

 

 

 

sábado, 23 de março de 2013

Parabéns Floripa!


       Florianópolis...   FLORIPARABÈNS!!!!

                           ontem e hoje
 

  Quanto mais anos  passam, mas Ela fica  bonita e jovem ainda..

         “Nascida para brilhar” brilha ponte, brilha praça,, brilha a lua no mar...

           Onde a Natureza  esparrama,  sente-se em casa  , deslumbra-se

          Reduto de muitos que aqui chegam em busca de qualidade de vida..

        Nesta corrida desordenada de um “refúgio”, Ela cresce, multiplica.

                Portanto, todo cuidado é pouco,Ela precisa ser tratada com carinho,

                 cuidar dos seus     mananciais, suas praias

                Para ela continuar com o seu brilho próprio.

 

                Ela é  encanto e beleza, essa  magia,  não vem somente das bruxas, é um mistério. Aquém interessar, desvenda se for capaz...E foi esse tal mistério, que me arrastou numa “rede”  instrumento de pescador, ou descanso, misteriosamente encantou-me de tal maneira,  que há dez anos, mesmo sem saber, num  dia antes ao  aniversário desta maravilhosa cidade, aqui me achei..e vim para ficar .

>>>E no balanço da rede rendada pelas rendeiras da Lagoa da Conceição, faço poesias como quem brinca com as letras prá lá e prá cá, proseio com

os ilhéus, com esse povo de mistura rara.

 

Florianópolis, assim como premiaste-me com a  inspiração há anos esquecida, perdida, hoje rendo a minha homenagem aquela que me abraçou como uma mãe adotiva e acolhedora. Costumo sempre falar “Se Florianópolis é a casa da Natureza” meu bairro é o quintal .

 

 Parabéns  Florianópolis pelo os seus 287 anos !

 

 

sábado, 9 de março de 2013

Outro olhar sobre Florianópolis(série: minhas crônicas)





Todo mundo vai ao centro diariamente: Estudantes, trabalhadores, donas de casa, crianças e por ai vai. Uns vão de carros, motos, mas a grande massa popular, usa mesmo, o  ônibus. Sem carro como estou  no momento, por um lado é ruim, tudo longe, o ponto então...Haja pernas para dar conta de chegar até lá. Por outro lado andar de ônibus têm suas vantagens, me fascina, observo coisas que não interessam a maioria das pessoas. Faço questão de ficar do lado da janela e alterno toda vez que vou à cidade, lá é que sempre vejo curiosidades.

 

           Um dia desses  saí, o tempo estava meio duvidoso, ameaçava sair o sol, ao mesmo tempo chuviscava e estava frio.Na estrada de areia clara, que costumo fazer o meu trajeto diário,deparo com uns “quero-quero” tentando avançar em mim, na hora não entendi o por quê daquela agressão tão rápida, nem ao menos deu tempo de me defender,. Em seguida encontrei um casal e comentei sobre o acontecido, o qual me alertou. Era por causa de um ninho deles que estava cheio de filhotes...Então era isso! Segui em frente. Olhei como de costume a paisagem, os quintais floridos, dei de cara com um belo cavalo, morava mesmo no quintal, e ele comendo grama, percebi que ela estava toda aparadinha, parecia que tinha sido passado um cortador,  pensei: este cavalo é um cortador natural de grama!, Nada desperdiçava... Bom e a viagem rumo ao centro continua.

 

          No ônibus, observo as árvores centenárias de um bairro antigo. Parecem monstros gigantes cheios de tentáculos, casarões antigos com quintais tão diferentes, bem fora de moda, porém, bonitos. A sensação é que naquele exato momento, tudo parou no tempo.





 

                Quando chego ao centro fico pensando na utilidade da calçada. Serve para tudo: pedestre, pedinte, camelôs, serve para tropeçar, até mesmo mendigo dormir. E por incrível que pareça... Os índios guaranis sobreviverem, cantando e dançando, e os transeuntes jogando moedas na sua cesta de palha, eu me pergunto: A que ponto meu Deus eles chegaram? Eles perderam o seu espaço, são a minoria, mesmo assim precisa passar por isso.

          

                  Sigo adiante, vejo mais outra índia, vendendo artesanato  indígena, com os seus curumins sujinhos em volta, e  um recém-nascido no colo. Confesso nunca tinha visto assim tão bebê, cheguei a bajular, com graça e cuidado, pergunto o nome, surpreendo, o nome dele, nada a ver com os nomes originais “David” perderam a sua identidade como legítimos brasileirinhos. bem como os demais, tudo nome estrangeiros.

             Fico por aqui... Vem  em quando tem mais...


 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

RESTO DE CARNAVAL(série: minhas crônicas)


A cidade de Florianópolis amanheceu de ressaca na quarta-feira de cinzas. No centro o cenário era devastador. Retalhos de fantasias rasgadas, plumas, gravata borboleta, sandália estragada pelo samba, vários acessórios largados ou perdidos no chão, brilhos quase apagado pela chuva. Alguns transeuntes indos e vindos, trabalhadores que voltavam à rotina do trabalho, a maioria das lojas, fechadas. Enquanto o banco não abria suas portas cerradas desde a sexta-feira anterior, para eu pagar as contas, observava tudo com outro olhar.

 

Ao olhar para baixo, vi os cães moradores de rua dormindo, provavelmente com a pança lotadas de sobras de churrasquinhos de carne, cachorros quentes, sobras estas, dos estômagos cheios dos foliões. Dormiam sossegadamente, esticados  roncando na sombra de uma loja da rua Felipe Schmidt...Ouvi alguém comentar diante deles:” Eita ressaca! Ontem a farra foi boa heim?! “  Pensei: cadê os mendigos? O que será que foi feito deles? Será que  a prefeitura “varreu pra debaixo do tapete”? Nem os pombos como de costumes estavam no meio do Largo da Alfândega. Será que ensurdeceram com o excesso de barulho?

 Apesar de tanta propaganda na mídia, para não fazer xixi na rua, as ”casinhas” não deram conta, eram muitas  bexigas cheias. Também...Haja cerveja! Haja lugar para despejar! O mau cheiro com o calor era horrível! Até os varredores  estavam atrasados para limpeza.

Olhando para cima, vi a decoração carnavalesca. Enfeites de pandeiros, mulatas, sambistas, máscaras sorridentes, confetes, serpentinas.  Ao contrário do Natal, onde as ruas ficaram sem enfeites. Birra do prefeito,  sabe como é,final de mandato, a “Prefeitura não tinha mais verbas”. Nem escolas de sambas desfilaram pelo o mesmo motivo citado. No entanto para quem brincou carnaval, valeu.

Conclusão: nem só de sambódromo, divertimentos pagos satisfazem a todos e é feito o verdadeiro carnaval. Foi dito e registrado que, foi um dos maiores e melhores carnavais de rua de todos os anos, como nos velhos tempos, onde multidões pularam e brincaram na rua, Um carnaval familiar, sem brigas, sem gastos excessivos, além de tudo, de graça. O ingresso? A alegria.

 

                                      Dora Duarte (Fevereiro de 2013)

 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sombra boa pra cachorro (série: minhas crônicas)


 
             Estava eu descontraída, no centro da cidade numa linda tarde de sol e calor. Passando por debaixo da velha figueira da Praça XV, fiz uma paradinha, sentei-me um pouco e pensei: para onde as pessoas estão indo, sempre correndo  tão apressadas? Acho que virou um vício, uma doença cotidiana de um mundo moderno. Quase não param, não percebem o outro lado das coisas da cidade. Se passar um conhecido por perto, é capaz de passar despercebido. Se eu não me “policiar”, acabo pegando este hábito também.

 

Observo esse ritmo frenético de compras, pagamentos, atrasos para o trabalho. Faço parte dessa massa, só que mais lenta, para isso, sempre cumpro com um ritual, da organização; as contas, trabalho e se me sobrar um tempinho, dá uma olhada básica nas lojas do meu interesse. Gosto de prestar atenção em cenas deferentes, a minha visão procura, a mente registra como se fosse câmera fotográfica.

               

            Ali bem ali, no meio de  trânsito humano;  turistas, gente que vai e vem atravessando a praça, um som clássico de harpa tocando melodias harmoniosas,senhores idosos, jogando dominó nas mesas cheia de sombra fresca da árvore e mais... Ciganas cercando os transeuntes para ler a mão, o menino sapateiro engraxando sapatos...

 

         Ao lado das mesas dos jogadores, debaixo da  famosa figueira, na sombra dela, um cão vira-lata, deitado de costa, ressonando, roncando com o órgão sexual “O bilolo” de fora, expostos bem natural, como se não houvesse ninguém ali, era ele e a sombra da figueira, nem os senhores  com seus gritos e gargalhadas, quando um dos parceiros ganhavam ,não estava nem aí para aquela cena engraçada, nenhuma pessoa para retratar, aquele momento, nem mesmo eu.

                        Ah como eu desejei ter uma câmera em mãos naquela hora!

 

                               Dora Duarte

 

 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

E o mundo não acabou(série: minhas crônicas)


 

Desde que eu me entendo de gente que ouço vários boatos sobre o fim do mundo. São profetas aplicando profecias, são cientistas, Ou algumas seitas religiosas que com seu poder de persuasão, induz os seus seguidores acreditar nesta sandice do fim do mundo.

Confesso que, quando era mais nova até me assombrava com tais boatos, assumida mesmo do medo de morrer,porque eu  via pela frente um monte de gente medrosa, preocupada com a  perca  da alma, se arrependia dos pecados, porém um dia após o marcado e esperado fim do mundo, estava ele ali presente quietinho do jeito que era um dia antes e o povo aliviado. Depois voltava atrás dos arrependimentos.

 O tempo passou o mundo evoluiu, até os medos também, mas um medo diferente, a s preocupações  eram em fazer esconderijos , casas subterrâneas, estocar alimentos, para alívio ou frustração desses seres humanos...Nada de um mundo acabar.

Leia estes trechos dos cronistas feras brasileiros:

“...Mas acaba em setembro próximo! Como se não bastasse as agruras inerentes à lide ingrata das letras que acossam desde a infância, ainda tenho de passar por esta: escrever com a sensação meio besta  de que nem eu vou ver estas linhas impressas, já que o mundo vai acabar...

...Já grandinho, tirando fino  em inúmeros fins do mundo, morei nos Estados Unidos e, na universidade fiz um amigo chamado Mike, que era muito chegado a um fim do mundo e chegou  a participar de algumas vigílias  pré-apocalípticas que não deram certo, mas ele nunca desanimou e é bem capaz de hoje morar em Manhattan e sair pela Times Square carregando um cartaz anunciando que o fim do mundo está próximo.”

 João Ubaldo Ribeiro para o Jornal do Estado de São Paulo, setembro de 1999.

“O mundo acabou e nem me dei conta”

“Levei uma cadeira confortável para o terraço, naco de queijo branco curado, brusquetas e uma garrafa de suave proseco, presente de Miguel Juliano pelo meu aniversário, sentei-me à espera do fim do mundo. Estava barbeado, com minha melhor roupa, um sapato confortável e levei alguns livros favoritos. Preparei=me para um pequeno cerimonial, afinal eu iria contemplar o fim do mundo, julguei necessário assistir a ele de forma digna. Nesta sociedade regida por manuais, não publicaram um orientando sobre como agir diante do fim do mundo...

...  O pequeno ritual terminou e o mundo não. Um fracasso como espetáculo. Qual o prazo estabelecido? Nenhuma informação completa... Agora, me respondam, tudo mudou e não me dei conta?

Ignácio de Layola Brandão (Jornal o Estado de São Paulo,15 agosto de 1999)

Diante destes comentários dos cronistas, me vi também envolvida nesse fim de ano, no dia 22 de dezembro, segundo o calendário Maia, o mundo acabaria, criou-se uma expectativa no mundo... Teve até seita vendendo um pedacinho de paraíso, comerciais de TV anunciando liquidações de lojas, para  endividar mais ainda os endividados, que achando se o mundo acabasse não precisaria pagar, mas , talvez não desse tempo de desfrutar o que comprou, não é mesmo?!

Enfim está ele aí, mas velho do que nunca esperando mais um que venha tentar acabá-lo. Pela lógica, acaba sim quando  quem o criou resolver dar um fim nele, ou quem sabe quando a humanidade destruir  apagar a natureza, extinguindo os bens sustentáveis da face da Terra.

                  Dora Duarte
Copyright © 2011 CONTA CONTOS ENCANTADOS.
Template customizado por Meri Pellens. Tecnologia do Blogger